segunda-feira, 27 de julho de 2009

Último dia em campo

Um dos motivos pelo qual Autazes foi escolhida pelos professores da FGV para a realização do projeto foi que aqui se instalou o primeiro Banco Postal do país. E muito de nossa pesquisa se baseia nas condições da cidade antes de depois do Banco Postal. Durante todo o período em que estivemos em Autazes, tentamos realizar o contato com o Banco, mas não foi possível. Entrevistamos então nove usuários do Postal para entendermos melhor como eram os serviços e quais os benefícios que a implementação do sistema trouxe para a população.

Os usuários do Banco Postal realizam saques, depósitos e pagamentos através dos funcionários dos Correios. A concessão de crédito não ocorre mais no Postal, todos os requerimentos são enviados à agência de um banco na cidade. Antes da abertura dessa agência, um funcionário de Manaus vinha até Autazes uma vez a cada dois meses para recolher os requerimentos de crédito da população. A chegada desse funcionário era anunciada no rádio e outros meios de comunicação. Os correntistas do Banco Postal podem realizar suas transações tanto nos Correios, que é onde se localiza o Banco Postal, como na agência do banco da cidade. Antes do Postal, os usuários guardavam seu dinheiro em casa, e hoje conseguem aplicá-lo na poupança. Um vendedor nos disse que antes do Postal tinha que ir uma vez a cada dois dias a Manaus para pagar fornecedores e receber o dinheiro, e quando isso não era possível tinha que pagar alguém de confiança para que fosse até Manaus realizar essas transações. O Postal e o banco da cidade se complementam, visto que antes da instalação da agência de um banco na cidade o Postal era extremamente sobrecarregado.

Os correntistas do Postal também fizeram algumas críticas em relação ao banco. Muitos reclamaram do tempo de espera na fila. Durante o período em que estávamos entrevistando as nove pessoas, duas sairam do banco porque desistiram de esperar pelo atendimento. Calculamos também o tempo de espera de uma mulher, que foi de 20 min, e como era um dia de pouco movimento, percebe-se que em dias de pagamento a situação deve ser caótica, como citado pela maioria dos entrevistados. Também ressaltaram que o sistema muitas vezes está fora do ar, o que impossibilita qualquer tipo de transação.

Fomos também à prefeitura atrás de mais dados sobre a cidade, principalmente a arrecadação municipal nos últimos dez anos, o número de servidores públicos e o número de estabelecimentos comerciais. Encontramos já alguns dados no site do IBGE, que na maioria são de 2005 a 2007.

Muito tempo foi gasto na tentativa de contato com secretários e pessoas da prefeitura, mas achamos importantes esses dados para complementar nosso trabalho .

Despedimo-nos de todos, principalmente do garçon do restaurante Bom Prato, flamenguista roxo, que fora nosso companheiro em quase todas refeições nesses dias. Ele inclusive nos deu um presente de recordação, uma caneca do flamengo que haviam trazido pra ele do Rio de Janeiro.

Fomos embora de Autazes com uma impressão muito positiva das pessoas da cidade, que foram bastante receptivas, e conhecendo um modo de vida e de relações interpessoais diferente, baseados num ritmo de vida e obrigações também diferentes das que conhecemos. Esse contato foi muito rico e nos fez ter uma idéia da dimensão e da riqueza do nosso país.

sábado, 25 de julho de 2009

Entrevistas nas comunidades

Visitamos mais três comunidades para entrevistar as pessoas e entender como elas lidavam com os serviços financeiros. As três comunidades foram: Miguel, Josefa e Sampaio.

COMUNIDADE MIGUEL

A comunidade é formada por 22 famílias e a economia local se baseia na plantação familiar de mandioca, cupuaçu e banana. Esses produtos são vendidos na zona urbana de Autazes.
Na comunidade de Miguel entrevistamos a Jaqueline e o Guilherme. O Guilherme é um microempreendedor, e sua história se encontra na seção Vídeos. Já a Jaqueline nos disse que não possui conta em banco e recebe o Bolsa-Família na Lotérica de Autazes, a qual é correspondente bancário da Caixa Econômica Federal. A viagem até Autazes custa R$ 9,00 ida e volta e dura cerca de 2 horas, por isso, Jaqueline já aproveita para fazer o rancho e outras compras no momento em que recebe o benefício do governo.


COMUNIDADE JOSEFA

Na comunidade de Josefa entrevistamos sete pessoas, incluindo o cacique, que é o responsável pela organização comunitária e é considerado um grande líder na comunidade.

O cacique nos esclareceu que os habitantes da comunidade, em sua grande maioria, recebem o Bolsa-Família e não chegam com esse dinheiro na comunidade, pois gastam grande parte do benefício em compras na zona urbana de Autazes. A comunidade de Josefa é considerada muito produtiva perante as outras comunidades do município, e vive da produção de mandioca e abacaxi. O cacique também nos disse que estão há anos batalhando pela aquisição de um trator. Muitas vezes o abacaxi produzido por eles chega estragado em Autazes, porque o transporte dessa fruta até Autazes é falho. A alternativa encontrada para que conseguissem o trator foi a oficialização de uma associação na comunidade de Josefa. Eles estão trabalhando nesse processo e acreditam que assim que conseguirem montar uma associação legalizada, conseguirão também os recursos para a obtenção do trator. Ainda segundo o cacique, das 66 famílias da comunidade, 61 recebem o Bolsa-Família.

Dos sete entrevistados, apenas um tinha conta em banco. O senhor que possuia uma conta bancária era aposentado, recebia a aposentadoria na agência do Bradesco, e já havia contraído dois empréstimos consignados, por isso recebia R$ 260,00 de aposentadoria. O aposentado faz todas as compras necessárias em Autazes.

Dos seis entrevistados que não possuiam conta em banco, todos recebiam o Bolsa-Família. Todos recebem o benefício na Lotérica em Autazes, e já fazem as compras de alimentos e outros produtos em Autazes. Isso faz com que se alimente um círculo vicioso, em que não há comércio na comunidade porque não circula dinheiro nela, e não circula dinheiro nela justamente porque não há comércio na comunidade. Foi citada também a grande dificuldade para o recebimento desse benefício, pois os habitantes devem sair da comunidade às 4 horas da manhã para conseguirem evitar um a gigantesca fila da Lotéria em dias de pagamento. Perde-se assim um dia inteiro de trabalho.


COMUNIDADE SAMPAIO

Na comunidade Sampaio foram entrevistados um aposentado, dois comerciantes e uma dona-de-casa. A comunidade é formada por cerca de mil pessoas e, segundo depoimento de um dos comerciantes, recebe cerca de R$ 70 mil por mês de benefícios governamentais, aposentadorias e salários.
João Siqueira é comerciante, compra seus produtos na zona urbana de Autazes e os revende na comunidade. Ele nos disse que as pessoas realmente fazem o rancho e as compras maiores em Autazes no momento em que recebem a aposentadoria ou o Bolsa-Família. Mas o negócio dele se sustenta porque quando o estoque de comida dos habitantes da comunidade acaba, eles vão ao comércio de João para fazerem pequenas compras, que não justificam uma viagem até Autazes. O comerciante afirmou que contrai empréstimos para capital de giro com muita frequencia, já contraiu mais de 10 empréstimos nos ultimos anos. O juro médio é de 6% ao mês, e o valor médio obtido é de R$ 7 mil.

Romero também é comerciante em Sampaio e nos disse que muitos agricultores da comunidade recebem o Pronaf A, assim como ele. Conseguem um financiamento de até R$ 18 mil para a produção agrícola, mas antes os agricultores precisam da aprovação do projeto junto ao IDAM, e além dessa aprovação, o IDAM é responsável por uma assistência técnica durante os anos em que o agricultor está plantando e colhendo o que propôs no projeto inicial. Segundo Romero, essa assistência do IDAM é “bem mais ou menos”.

A dona-de-casa entrevistada recebe o Bolsa-Família e possui conta no Bradesco. Não usa cartão de crédito porque não faz muitas transações. Para receber o benefício ela tem que ir a Autazes e essa viagem dura cerca de quatro horas. Assim já aproveita para fazer a compra do mês por lá mesmo. Já fez um empréstimo, obteve R$ 1 mil e pagou em 18 vezes de R$ 99. Apesar dos juros altos, ela nos disse que o empréstimo lhe foi útil e quando for necessário ela contrairá novamente.

O sr. Claudaltino é um aposentado de 77 anos. Disse-nos que precisa ir sempre a Autazes para fazer compras e receber a aposentadoria. Mas algo o incomodava muito ultimamente, pois ele não sabia o motivo pelo qual estava recebendo apenas R$ 200 de aposentadoria, segundo suas contas deveria receber R$ 320. O sr. Claudaltino nos apresentou alguns documentos do banco em que fizera o empréstimo, na verdade encontrou apenas um dos documentos e nos explicou que contraira dois empréstimos consignados, um de R$ 2 mil e um de R$ 300. Mas com esses empréstimos, descontando as parcelas do pagamento do empréstimo, o aposentado deveria receber R$ 320 e não R$ 200. Não se sabe se alguém da família utilizou seu cartão para obter o dinheiro no nome dele ou se aconteceu algum outro problema.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Vídeos

Entrevista com microempreendedor na comunidade Ramal do Miguel

Duração: 7 min 44 seg

Trajeto até a comunidade de Sampaio

Duração: 24 seg

Casa de uma família indígena que produz mandioca

Obs: trabalham o dia inteiro, a familia inteira, e recebem cerca de R$150,00 por mês.

Duração: 47 seg

Rebeka Variedades - uma das maiores lojas de Autazes

Duração: 14 seg

Ensino Médio à distância - Projeto SEDUC Amazonas

Duração: 1 min 33 seg

Série de vídeos da capacitação do Sebrae para os tomadores de crédito da AFEAM

Duração: 35 seg

Duração: 42 seg

Duração: 2 min 2 seg

Prefeitura e capacitação do SEBRAE

Pela manhã fomos novamente ao banco da cidade para fazer algumas entrevistas com os clientes. Mas não ouvimos nada diferente do que havíamos ouvido na primeira semana. Muitos dos clientes já fizeram empréstimos, principalmente empréstimos consignados. Os seguros são pouco usados.

Fomos também à prefeitura falar com a Dona Graça, chefe de gabinete. Ela fora avisada pelo Petrônio que estávamos a procurando. O Petrônio é uma pessoa muito interessante que conhecemos aqui em Autazes. Ele era da marinha naval e já havia conhecido muitos países. Nos contou de vários lugares, como a África – onde ele afirmou haver miséria extrema - Bolívia e Venezuela e nos mostrou seus projetos em Autazes. Como ele mesmo afirmou, e logo percebemos, ele é como o professor Pardal, que procura entender tudo e faz diversos experimentos. Ele é engenheiro e veio da Venezuela para Autazes fazer uma indústria de reciclagem e outras atividades produtivas relacionadas aos produtos da reciclagem.

A Dona Graça foi bastante receptiva, nos informou alguns dados gerais do município e nos indicou quem poderia nos fornecer outros dados. Os dados que conseguimos foram:

Número de escolas:

40 escolas municipais na zona rural (até o Ensino Fundamental)
5 escolas estaduais na zona urbana (até o Ensino Médio)

Número de hospitais: 1

Número de postos de saúde: 5

Número de delegacias: 1

Os outros dados que estávamos procurando eram o número de aposentados, funcionários públicos, beneficiados pelo bolsa-família e a arrecadação tributária municipal dos últimos dez anos.

Pela tarde fomos à aula “Aprender a Empreender”, dada aos tomadores de crédito da AFEAM. Essa foi dada por um técnico do SEBRAE. A aula abordava temas como empreendedorismo, relacionamento com fornecedores, clientes, concorrentes, marketing e publicidade. Os temas eram abordados de forma lúdica, com diversos exemplos e algumas atividades grupais. O professor possuía grande facilidade em comunicação e interagia bastante com a classe garantindo a atenção dos alunos. Foi distribuída uma apostila e havia também um DVD que não chegou a ser distribuido, mas conseguimos tanto o DVD quanto a apostila. O material é de grande qualidade e chega a analisar temas mais complexos, como o cálculo do ponto de equilibrio a partir da margem de contribuição e custos fixos.

Infelizmente o curso não foi dado como fora proposto, em 6 dias de 4 horas, devido à questão de tempo do SEBRAE e da AFEAM . O curso fora dado aqui em Autazes em dois dias de 5 horas.


O primeiro dia de aula foi bastante interessante e abordava temas aparentemente simples mas essenciais de serem pensados pelos empreendedores, como quem são os concorrentes, a possibilidade de fazer parcerias de compra para conseguir ganhos de escala e os 4 P’s do marketing.

Terceira semana

No começo da terceira semana em Autazes entramos novamente em contato com o Banco Postal, o banco da cidade e a Prefeitura em busca de dados mais concretos que pudessem nos explicar melhor como está a realidade da bancarização e do microcrédito em Autazes.

Desde o início da pesquisa o contato com o Banco Postal não foi nada fácil devido à grande burocracia existente no modelo organizacional dos Correios. No primeiro dia de trabalho aqui em Autazes, ainda junto ao nosso orientador Renê, tentamos entrevistar o gerente do Correios da cidade, mas não foi possível devido à falta de uma autorização dos superiores dele. Nos dias seguintes continuamos tentando estabelecer um contato com o gerente para que pudéssemos colher dados de como a população usa o Banco Postal, sempre em vão. Chegamos a enviar um e-mail para a Assessoria de Comunicação com as perguntas a serem feitas ao gerente, mas este não foi respondido. Então tentamos novamente nesse dia e obtivemos a garantia de que o e-mail seria respondido, mas uma entrevista não seria autorizada pois os Correios só autorizam entrevistas com gerentes caso algum assessor de comunicação da empresa esteja presente. Continuamos aguardando a resposta do e-mail.

A Prefeitura de Autazes sempre nos recebeu muito bem e fez de tudo para que conseguíssemos as informações que procurávamos. Porém, devido ao falecimento de um ex-governador do Amazonas no final de semana, foram decretados três dias de ponto facultativo na prefeitura. Então fomos informados que só conseguiríamos conversar com a Chefe de Gabinete e o Secretário de Finanças no dia seguinte.

Os colaboradores do banco também colaboraram muito para a pesquisa. No momento precisávamos de algumas informações um pouco mais confidenciais, então nos pediram que enviasse um e-mail à matriz pedindo uma autorização. A autorização ainda não foi concedida.

Entrevistamos também a financeira da cidade e as duas concessionárias de motos. Segue um resumo das entrevistas:

Rubelmar,
Autocred Financeira
  • Abriu há dois meses e já realizou 70 concessões de crédito
  • O principal destino desse dinheiro é a reforma de casas e tratamentos médicos
  • Valor médio emprestado é de R$ 2 mil e só realizam empréstimos consignados
  • 60% das pessoas que obtêm empréstimos com eles já chegam com pelo menos um empréstimo na carteira
  • Houve um funcionário que chegou com 5 empréstimos em carteira, ou seja, já não recebia quase nada de salário

Carlos,
Manaus Moto Center – Concessionária Honda

  • Abriu há um mês
  • Venderam 8 motos financiadas pelo banco e 4 por consórcio
  • No financiamento do banco ele não conhece qual o critério para a concessão, porque alguns autônomos conseguem o financiamento e outros não
  • O gerente do banco já avisou não vai liberar financiamento para autônomos e moto-taxistas

Gilzinéia e Euclínger,
Multimarcas Moto e Cia

  • Estão há seis anos no mercado
  • Os financiamentos da loja são feitos com o banco. Para profissionais autônomos o financiamento geralmente é liberado, mas exige-se entrada.
  • Vende cerca de 6 motos por mês. Antes da instalação da agência do banco na cidade vendiam 3 motos por mês.

Final de Semana em Manaus

No final de semana viajamos à Manaus para conhecer a cidade e descansar um pouco. Ficamos num albergue e encontramos estudantes de diversas regiões do país que estavam em Manaus para participarem de um congresso da SBPC(Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e também um grupo de franceses que vieram conhecer a Floresta Amazônica.

Conhecemos alguns pontos turísticos da cidade, mas o que realmente nos surpreendeu foi a beleza do Teatro Amazonas. Fizemos uma visita guiada ao Teatro, construído em 1884 com o dinheiro dos grandes barões da borracha. Foi todo construído com materiais vindos da Europa e está muito bem conservado. Fica na região central da cidade.



O clima quente e úmido, característico de todo o estado do Amazonas, torna o dia um pouco mais cansativo que o normal.

Fomos também a uma conhecida chopperia da cidade. Tomamos o chopp "Encontro das águas", que era composto por chopp escuro e pilsen, de diferentes densidades, fazendo referência ao famoso encontro das águas do Rio Negro com o Rio Solimões.

Uma viagem de Autazes a Manaus leva cerca de 3 horas e custa R$ 20. O transporte é feito por uma voadeira, uma van e em seguida outra voadeira. O nome voadeira surgiu do costume dos amazonenses de se referirem aos motores de barcos como voadores. Assim a voadeira é o barco com o voador.

Entrevistas com a população

Antes de começarmos mais um dia, discutimos muito pela manhã para definirmos o que é que faltava para entendermos melhor a realidade da bancarização e do microcrédito na cidade. Acreditamos que estávamos focando muito em alguns agentes e até o momento não havíamos conversado muito com a população em geral. Então fomos a lugares mais distantes do centro da cidade para ver como eram feitas as transações bancárias e verificar se eram muito utilizados os serviços oferecidos pelos bancos.

Entrevistamos 14 moradores de bairros um pouco mais afastados. Mas também não eram muito distantes do centro, pois a cidade é pequena. Seguem alguns dados obtidos:

Dos entrevistados, 8 não possuiam conta em banco. Desses nenhum utilizava cartão de crédito. Apenas uma tinha algum tipo de seguro, no caso dela era um seguro-funerário que cobria a família inteira em caso de morte com o caixão e o velório e custava R$ 25 por mês. O dinheiro deles fica guardado em casa ou no bolso, muitos alegaram ter muito pouco para poupar e alguns afirmaram que não poupam porque não têm o que poupar. Já um comerciante afirmou que não coloca o dinheiro no banco porque o juros da poupança é baixíssimo, o dinheiro que ele ganha é investido em terrenos e imóveis.

Dentre os 6 entrevistados que informaram possuir algum tipo de conta em banco, metade deles usa cartão e a outra metade não. Nenhum deles possui algum tipo de seguro, uma mulher afirmou que não faz seguro porque não confia em bancos. Dois dos entrevistados que possuem conta em banco reclamaram bastante das taxas cobradas. Segue algumas afirmações: "O banco é igual à TIM, não pára dinheiro na conta.", "No banco o dinheiro some da conta em dois dias", "É uma roubalheira", "Em dois dias o banco comeu R$57,00 do meu dinheiro devido a taxas de cheque especial e cartão, mas eu não uso nem um dos dois" "Uso o banco igual pronto-socorro, só porque não tem outra alternativa.".

Percebemos que existe grande receio da população em relação ao banco, provavelmente por não terem informações suficientes sobre seus direitos e deveres em relação a este. As pessoas não entendem o modo como sua conta é taxada, os juros sobre empréstimos cobrados e afirmam ser lesadas na relação com o banco.

Além desse dia de entrevista, durante outros dias de conversas cotidianas com as pessoas da cidade também percebemos essa postura negativa em relação ao banco. Ouvimos três vezes a afirmação de que o mais forte prevalece. Em alguns casos ainda percebemos que o fato de o banco ser privado é fonte de desconfiança, pois algumas pessoas se mostraram favoráveis à instalação de outras entidades financeiras, no caso Banco do Brasil e Caixa Econômica.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Governos

AFEAM -Agência de Fomento do Estado do Amazonas
  • Instituída como órgão da Administração Indireta do Estado na modalidade de Empresa Pública revestida da forma de sociedade anônima. Funcionalmente enquadrada como Instituição Financeira não bancária.

  • Missão: Concorrer para o desenvolvimento sócio-econômico do Estado do Amazonas, através de ações de apoio técnico e creditício que propiciem a geração de emprego, renda e a melhoria da qualidade de vida do povo amazonense.

  • Dentre os fundos e programas da AFEAM, o fundo de nosso interesse é o Fundo de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e ao Desenvolvimento Social do Estado do Amazonas (FMPES).
  • O FMPS é formado por 3% do ICMS arrecadado na Zona Franca de Manaus.

  • Os beneficiários são micros e pequenas empresas dos segmentos industrial, comercial e prestação de serviços

  • Não são financiadas pessoas que querem iniciar um negócio, somente quem já está no ramo a pelo menos um ano.

  • Pesquisam SPC, Receita Federal e o sistema interno para escolher beneficiários. Além disso, fazem uma visita aos aprovados no local de trabalho.

  • Esse fundo financia máquinas equipamentos, utensílios e aporte de capital de giro.
  • Os juros são de 7% a 10% ao ano com bônus de adimplência de 25% sobre os encargos.

  • Prazos:
    24 meses com três meses de carência para aporte de capital
    até 60 meses para investimentos mistos( capital e maquinário)

  • Garantia:
    acima de 10 mil: composta de garantias reais
    misto de até 10 mil: alienação de bens e avalista
    capital de giro até 5 mil: avalista
  • Para adquirir o financiamento é obrigatório participar da formação disponibilizada pelo SEBRAE na cidade. O curso é idealmente feito em 24 horas, normalmente em aulas de 4 horas de segunda a sábado. Esse ano a aula será resumida em dois dias de quatro aulas, por falta de tempo da AFEAM.
  • A inadimplência está atualmente em cerca de 37%. Esse elevado número, segundo o representante da AFEAM Bosco, é devido ao descaso dos tomadores no pagamento pelo fato do dinheiro ser público e pela falta de instrução gerencial dos tomadores do crédito.
  • A AFEAM financia também o setor primário (FMPES Rural) para investimentos agropecuários fixos e semifixos e custeio agrícola e/ou pecuário, com as mesmas condições e prazo de financiamento de até 144 meses, já inclusa a carência de até 72 meses.
  • Na cidade de Autazes, além da atual ação da AFEAM de 450 mil, está sendo financiada uma cooperativa de laticínios.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Visita à COOPLAN

Acordamos bem cedo para embarcarmos às 7h com o vice-prefeito de Autazes para conhecer a Cooplan, uma cooperativa de leite que é financiada pelo Banco do Brasil na comunidade de Novo Céu, aqui em Autazes. O vice-prefeito é um dos 51 cooperados.

Já tínhamos visitado essa comunidade semana passada. São 40 minutos de barco, num percurso muito bonito. Pela manhã participamos da reunião de diretoria e pela tarde da Assembléia da cooperativa. Fomos muito bem recebidos por todos. Ficamos surpresos com o bom humor e a forma democrática com que os assuntos eram abordados.

O presidente da cooperativa citou que uma das razões da escolha da Cooplan para receber um investimento de R$ 2 mi do Banco do Brasil, com taxa de 2% ao ano, foi essa capacidade de mobilização e união dos produtores de leite da comunidade.

Interessante também foi perceber que a questão da preservação ambiental aqui na Amazônia está em discussão nas cooperativas e associações. Foi citada algumas vezes a preocupação dos cooperados em se encaixar nas leis ambientais vigentes. Além disso, ouvimos que a pecuária de abate aqui no Amazonas é palavrão, e a pecuária de leite precisa ser muito cuidadosa com a preservação do ambiente, pois a fiscalização vem se tornado maior.


Estava em pauta também a visita de Lula, Carlos Minc e Fernando Gabeira a Manaus para tratar de questões ambientais.

Tivemos uma interessante conversa com o engenheiro ambiental Jair Lima Barreto. Jair se formou em engenharia no interior de São Paulo, em Piracicaba. Disse que em São Paulo muitas coisas já estão encaminhadas e acertadas, como ele queria fazer a diferença e causar um impacto positivo na vida de muitas pessoas, resolveu vir trabalhar no Amazonas há 30 anos atrás. Trabalhou no SEBRAE e atuou em quase todos os municípios amazonenses. Descobriu em Autazes um grupo de pessoas que estavam determinadas a se unirem para criarem uma cooperativa e assim produzirem queijos e derivados de alta qualidade. Jair então entrou como consultor e está há 5 anos assessorando a cooperativa. Somente esse ano eles receberam a notícia que tanto esperaram: a indústria de laticínios será financiada. Jair disse que para o desenvolvimento da comunidade deveria ser criada também uma associação para as mulheres dos cooperados da Cooplan, assim evita-se problemas familiares já que a família não vai ser sustentada apenas pelos homens. Criou-se então a AMEC, que é a associação das mulheres dos cooperados da Cooplan. Na AMEC as mulheres produzirão doces e derivados que aproveitarão o leite mais ácido que não pode ser utilizado na produção de queijos. Ele citou que a AFEAM é uma medida política e pouco eficaz por não ser permanente. O Governo Estadual define o quanto vai destinar a cada município, embasado por questões políticas. O próximo passo é trabalhar na idéia de montar uma cooperativa de crédito para fomentar o desenvolvimento na cidade. Essa cooperativa de crédito possui como principais objetivos possuir um terminal de banco para realizar as transações financeiras que aumentarão e fornecer microcrédito aos cooperados.

A AFEAM está na cidade!

Conseguimos marcar com o vice-prefeito uma visita à comunidade Novo Céu para conhecer a Cooplan, uma cooperativa de leite que vai ser financiada pelo Banco do Brasil.

Descobrimos também, durante as entrevistas com os feirantes, que a AFEAM (Agência de Fomento do Estado do Amazonas) está na cidade para o cadastramento e capacitação dos microempreendedores selecionados para participarem dos financiamentos da agência

Fomos então até o local do cadastramento e descobrimos que haveria uma apresentação da AFEAM no colégio da cidade às 15h. Foi uma ótima notícia, pois conhecer a AFEAM seria essencial para entendermos outras fontes de microcrédito em Autazes, visto que o banco não disponibilizava de forma efetiva esse serviço na cidade.

Ainda pela manhã entrevistamos funcionários da Colônia dos Pescadores. A entrevista segue na seção OSCIPS e Associações.

Pela tarde participamos da palestra da AFEAM. Estavam presentes pessoas importantes da cidade, como o presidente do IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas), dois secretários e o prefeito. Este fez um discurso inflamado revelando que atualmente a cidade se sustenta de transferências sociais e do funcionalismo. Nesse contexto ele deixou claro que era preciso que os empreendedores que tomassem parte dos R$ 450 mil destinados ao microcrédito em Autazes fizessem bom uso do dinheiro e desenvolvesse efetivamente alguma atividade econômica. Fomos muito bem recebidos pela Claudete, do SEBRAE e pelo Bosco, da AFEAM. Eles nos convidaram a assistir às aulas de capacitação que ocorreriam na próxima semana. Outras informações sobre a palestra da AFEAM estão na seção Governo.

domingo, 19 de julho de 2009

Segunda semana

Esse final de semana ficamos Autazes. No Sábado, descansamos durante o dia e à noite fomos a mais um arraial na cidade. As pessoas no geral são bem receptivas aqui. Já conhecemos bastante gente por meio das entrevistas que realizamos nos últimos dias.



Estamos tentando achar algum lugar para mergulhar. Porém embora haja rios em abundância por aqui, os lugares para mergulhar são um pouco mais distantes do centro. Além disso, ouvimos algumas histórias de jacarés, sucuris e candirus. Essas histórias tiraram um pouco da nossa ansiedade de nadar nos rios amazonenses.

Acabamos de entrevistar os correspondentes bancários, inclusive o correspondente da Caixa Econômica Federal, na Lotérica. Descobrimos que a Lotérica também atua junto ao Banco do Brasil, porém somente nas operações de saque e saldo.



As entrevistas estão na seção Correspondentes Bancários e Comércio



A dona de um dos mercados que era correspondente bancário havia nos dito que com o Banco Posta o dinheiro aumentara, mas com a abertura da agência em 2007, o dinheiro sumira. Junto com o Renê e a Karol, formulamos a hipótese de que com a instalação da agência e o maior acesso ao crédito as pessoas passaram a ter acesso a bens de maior valor agregado, não sobrando tanto dinheiro para gastar em bens mais baratos, como os encontrados nos mercadinhos.



O Banco Postal só fornecia empréstimo uma vez a cada dois meses, enquanto a agência fornecia crédito diariamente. Para analisarmos a veracidade dessa hipótese, entrevistamos cinco lojas que vendem produtos de maior valor agregados, principalmente eletrodomésticos. As entrevistas mais relevantes estão na seção Correspondentes Bancários e Comércio.


Outras hipóteses possíveis é o aumento da concorrência e as demissões realizadas pela prefeitura(que possui como meta 30% dos servidores e já alcançou cerca de 20%).

Fim da primeira semana

Sexta feira de manhã, após o café, sistematizamos as tarefas a serem feitas nas próximas duas semanas de trabalho em campo. No dia anterior, o Renê havia encontrado uma feira de produtores na cidade que seria de grande valia para entender o funcionamento do microcrédito.

Fomos então até a feira realizar algumas entrevistas. A feira é um lugar fechado dividido em vários boxes ocupados por açougues, peixarias, comércio de grãos, lanchonetes, artesanatos, dentre outros estabelecimentos.




Entrevistamos oito comerciantes da feira. As entrevistas mais relevantes se encontram na seção Tomadores de Microcrédito.

Durante a tarde a chuva foi forte, fato esse que aconteceu somente um dia essa semana, sendo o resto dos dias de sol intenso e muito calor. O calor aqui perdura durante todo ano, ouvimos inclusive um engraçado comentário que dizia que quando fazia 29º C em Autazes, o hospital ficava cheio.

Após o almoço, mapeamos e visitamos os correspondentes bancários da cidade. Além da Lotérica (Caixa Econômica Federal) e do Banco Postal, existem mais três correspondentes do banco.

As entrevistas nos correspondentes se encontram na seção Correspondentes Bancários e Comércio.









Pela noite jantamos de novo com os funcionários da agência do banco e acabamos dormindo um pouco mais cedo para compensar essa primeira semana corrida e bastante produtiva.

Começamos a ter uma visão mais clara sobre a prestação de serviços financeiros na cidade. Os depósitos, saques, pagamento de boletos e empréstimos consignados representam quase a totalidade dos serviços prestados. A poupança, os seguros e o microcrédito parecem ser muito pouco utilizados pela população.

Outra importante percepção é a grande importância das transferências sociais e do funcionalismo público na economia local. Além disso, a pecuária de corte e a pecuária leiteira são relevantes economicamente.

sábado, 18 de julho de 2009

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Primeiro dia sem orientador

Na quinta-feira fomos a campo sem a companhia do nosso orientador Renê e a Karol. O dia aqui em Autazes começa cedo e acaba cedo. A agência do banco abre às 8 e fecha ao meio-dia, ficando aberto somente os caixas eletrônicos. Assim, após o café-da-manhã, começamos a entrevistar alguns clientes do banco.

Com a permissão do gerente abordamos as pessoas que estavam utilizando os serviços do banco. Entrevistamos oito pessoas e evidenciamos que os repasses públicos e o funcionalismo público são de extrema relevância na economia local. Das oito pessoas entrevistadas, sete recebiam bolsa-família, aposentadoria, auxílio-doença ou eram funcionários públicos.

Por meio das entrevistas confirmamos que de fato a poupança e o seguro são pouco utilizados pelas pessoas. Nenhuma das oito pessoas utilizava esses serviços. Outro fato relevante é o grande número de empréstimos consignados para aposentados e servidores ente os entrevistados.

Dentre as entrevistas realizadas com os usuários do banco, a mais interessante para nosso trabalho foi com Udson, que trabalha no frigorífico da cidade, gostaria de ser plantador, mas encontra dificuldades no acesso ao crédito. A entrevista está na seção Tomadores de Microcrédito.

Conhecemos hoje outro restaurante na cidade, o Nova Opção. Já experimentamos uma grande variedade de peixes como Pacu, Pirarucu, Tambaqui e Tucunaré. Até o momento o Tambaqui foi eleito como o mais saboroso deles.

Pela tarde ainda visitamos o Sindicato Rural e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. A reunião com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais nos fez refletir sobre alguns fatos negativos que ocorreram após a bancarização. Como exemplo é o endividamento dos aposentados que realizam vários empréstimos, e acabam comprometendo quase todo seu benefício mesmo a lei não permitindo que o endividamento dos aposentados passe de 30% da renda recebida. Além disso, foi citado que os aposentados sofrem diversas deduções devido a recebimento de cartõe e taxas relacionadas a serviços que eles não usufruem.

Seguem as entrevistas na seção OSCIPS e Associações.

A noite fomos em um arraial com danças típicas da etnia indígena mura, dentre outras. Vendia-se comidas típicas, como o Tacacá e o Pato no Tucupí. Estava bastante cheio e animado. O forró é a música mais tocada por aqui.






segunda-feira, 13 de julho de 2009

Visitas às outras comunidades

Começamos a visitar outras comunidades do município de Autazes. Essas comunidades têm acesso por meio do rio. Acordamos mais cedo para embarcar no lugar combinado às 8 da manhã.

A viagem até as comunidades é ainda mais bonita do que já tínhamos visto até então. O caminho pelo rio levou cerca de 40 minutos e passamos por igarapés e uma bela vegetação típica da Floresta Amazônica.




A viagem foi feita em um barco bem rápido pertencente ao dono de uma náutica aqui na cidade. Ele faz barcos sem planejamento prévio, sem um modelo desenhado no papel, e não tem curso superior, ou seja, não estudou engenharia. Além da náutica ele está fazendo uma olaria, cuja máquina ele mesmo produziu. Nos próximos dias ele também será entrevistado.

Precisávamos voltar à cidade ao meio dia. Começamos a visita pela comunidade de Novo Céu. Lá conversamos com algumas pessoas do comércio logo na entrada da comunidade.



Depois fomos à comunidade de Muritinga, bem perto de Novo Céu e conversamos com o um pequeno comerciante da comunidade indígena.

As entrevistas se encontram na seção Tomadores de Microcrédito

À noite fomos ver uma unidade de ensino tecnológico à distância na escola. Infelizmente o sistema não estava funcionando, mas foi surpreendente ver o grau de tecnologia e interação envolvido nas aulas. As aulas eram ministradas por um professor em Manaus para algumas cidades que podiam se comunicar tanto com o professor como com as demais cidades. Quando havia algum exercício ou discussão a ser feita era possível imprimir as cópias necessárias em uma impressora que estava entre os demais equipamentos tecnológicos utilizados pela professora.

Jantamos no restaurante Bom Prato com o pessoal que trabalha na agência do banco.

OSCIPs e Associações

ENTREVISTAS REALIZADAS NOS SINDICATOS

Lucivaldo Oliveira Nery,
Presidente do Sindicato Rural de Autazes



  • fundado em 1923, antes da cidade, que foi fundada em 1956
  • possui cerca de 600 sócios
  • até 1998 oferecia serviços de saúde aos associados, mas hoje oferece apenas cursos profissionalizantes através de uma parceria com o SENAI, que acontecem com pouca freqüência
  • é cobrada uma taxa de R$10 ao mês, mas nem 10% dos associados pagam
  • os sócios precisam de comprovante do sindicato para as aposentadorias, e esse acaba sendo o único serviço prestado pela associação


Raimundo Aldo Gomes França,
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais

  • possui 787 associados, uns 80 contribuem com a taxa de R$ 8 ao mês
  • o sindicato atua como um canal de informação para os associados
  • a principal atividade é a reivindicação de interesses perante o Governo. Dessa forma conquistaram, por exemplo, a inclusão dos trabalhadores autônomos na Previdência Social
  • acredita que o ensino a distância ajudaria muito a informar e educar os sócios
  • “O agricultor vive uma história de dificuldade de crédito”
  • o sindicato também fornece o DAP, documento necessário para obter o PRONAF, que é um programa de incentivo do Governo Federal ( mais informações sobre o PRONAF na seção Governo)
  • a expansão dos empréstimos consignados originou os correspondentes bancários e financeiras interessadas nessa “mudança do limite de crédito”
  • o idoso pode comprometer até 30% de sua renda com empréstimos consignados, mas a lei não especificou que seria apenas um único empréstimo, então os idosos fazem muitos e acabam perdendo sua aposentadoria
  • algumas financeiras agem de má fé e já preenchem novos contratos para o idoso. Alguns cobram até juro de mora!
  • o Banco Postal fez uma campanha de má fé “enganando” os idosos, dizendo que eles deveriam abrir a conta no Postal para que continuassem recebendo a aposentadoria.

Colônia dos Pescadores

  • 613 associados
  • Taxa para associados de R$15,00 ao mês
  • Benefícios para associados: seguro defeso ( recebimento de 4 meses de salário mínimo do governo federal em períodos em que a pesca é proibida), auxílio-doença, INSS, seguro maternidade.
  • Existem 250 pescadores fazendo empréstimos para comprar máquinas de até 35 mil reais no Banco da Amazônia pelo PRONAF ( mais informações sobre o PRONAF na seção Governo)
  • Normalmente os empréstimos são de cerca de 5 mil reais para compra de pequenos motores(rabeta), canoas e material. É utilizado o aval cruzado (um avaliza o outro), a taxa praticada é de 2% ao ano e não é possível retirar dinheiro, somente máquinas.
  • Antes faziam empréstimo pela AFEAM, mas o Banco da Amazônia pratica taxas de juros menores e as máquinas são mais baratas em relação às oferecidas pela AFEAM

Sindicato dos Moto-taxistas

  • São 46 moto-taxistas associados
  • A associação foi fundada em 1998
  • Em Autazes estão registrados 223 moto-taxistas e seis associações, em 1998 existiam apenas 17 moto-taxistas
  • Em 2003 o Banco Panamericano financiou 20 motos para o sindicato
  • Tem associados que conseguem fazer o financiamento para a compra de motos pelo banco e outros não, não se sabe o motivo já que nenhum deles têm contracheques ou outras formas de garantia para o empréstimo
  • Cada associado paga R$ 10 mensais, menos o presidente
  • Se os associados precisam de dinheiro emprestado, o sindicato fornece até R$ 100. Cobra-se uma taxa de R$ 5 por empréstimo, qualquer que seja o valor, respeitando sempre o limite de R$ 100. Vencimento em 20 dias.
  • É bem difícil para os moto-taxistas conseguirem empréstimos bancários.

Tomadores de Microcrédito

ENTREVISTA NA ALDEIA DO LAGO DO FERRO QUENTE

Raimundo Nonato Marques de Mendonça, 42 anosLíder da Aldeia – Etnia Mura

  • os brancos não dão apoio suficiente para os índios da aldeia dele
  • pra fazer empréstimo tem que ter propriedade, e o índio vive nas terras da União
  • terras são boas mas precisam de apoio para plantarem banana, madioca, maxixe...
  • aldeia constituída de 107 índios
  • acredita que Governos Federal e Estadual repassam o dinheiro destinado aos indígenas e esse dinheiro é barrado no Governo Municipal
  • adquirira eletrodomésticos através do crediário de uma loja, quem não paga as parcelas têm o equipamento resgatado em casa pelo pessoal da loja

ENTREVISTAS NA COMUNIDADE NOVO CÉU


Léo Ribeiro dos Santos, 28 anos.

Proprietário da Casa de Pesca Comercial Sofia















  • .
  • vende material de pesca e ração, é o único na comunidade que vende esses produtos
  • o pai dele tem um outro comércio na cidade e a população perguntava para Léo o porquê que ainda não tinha uma loja de pesca em Novo Céu, já que a demanda é grande
  • Léo é amigo do dono da loja de pesca de Autazes, então com ele obteve os contatos dos fornecedores e abriu o estabelecimento
  • sua esposa trabalha na prefeitura como secretária de sua cunhada. Então usou o contracheque da cunhada (que oferecia um limite de empréstimo superior ao da esposa) para contrair um empréstimo consignado para funcionários públicos na CEF de Manaus.
  • Pegou R$ 10 mil emprestado e no total pagou R$ 15 mil em 36 parcelas
  • optou pela Caixa Econômica Federal porque no outro banco o empréstimo para capital de giro acarreta em juros altos
  • em Novo Céu moram 6 mil pessoas e não há nem banco nem correspondente bancário
  • então há uma pessoa que aproveita a oportunidade e faz depósitos e pagamentos, transportando o dinheiro ou o boleto até Autazes, cobra 5% do valor transacionado
    o banco devia dar "uma chance a mais" aos empreendedores, pois os juros são altos e o processo é burocrático
  • os aposentados estão todos com a "corda no pescoço" de tantos empréstimos
  • é importante uma capacitação dos tomadores de microcrédito, pois tem muito empreendedor que não sabe muito bem administrar o dinheiro que recebe
    a população se confunde com os prazos e as taxas de juros praticadas, e os bancos muitas vezes não são muito transparentes

Adamor Figueiredo
Mercadinho e Hotel Ac. Figueiredo

  • abriu o negócio há 8 anos
  • tem conta no banco da cidade e fez um empréstimo para investir na loja de R$ 5 mil há alguns anos, com juros de 4,5% e 3 meses de carência. Conseguiu quitar a dívida
  • quando tinha um Correspondente Bancário na comunidade, o dinheiro circulava muito mais. Hoje, como não tem mais, muitas pessoas vão gastar seu dinheiro na área urbana de Autazes

Élson Arcos França e Jorge Arcos França,
RJT Comercial

  • ambos dividem ao meio uma residência e montaram dois estabelecimentos
  • Élson trabalha com a distribuidora Martins e nunca precisou pegar empréstimo
  • Jorge pretende fazer um empréstimo no banco e usar como garantia um terreno que possui
  • o Correspondente Bancário da comunidade ficava no mesmo lugar onde Jorge está instalado hoje, mas antes era outro dono. Jorge não conseguiu ser correspondente porque ainda não tem firma registrada
  • o antigo proprietário do estabelecimento que era correspondente tinha que contratar um segurança no dia de pagamentos de benefícios e aposentadoria, o movimento era grande e ele oferecia até um café da manhã pro pessoal
  • hoje com a falta de correspondente a população tem que pagar cerca de R$ 30,00 e acaba levando uma manhã inteira para ir à Autazes receber os benefícios e aposentadoria
  • a escola da cidade tem que parar por 2 dias no mês para que os professores consigam ir a Autazes receberem seus salários

ENTREVISTA NA COMUNIDADE MURITINGA


Arão de Souza Martins
Índio da etnia Mura














.

  • Na comunidade ribeirinha vivem 1340 índios
  • Fica a 25 minutos de barco do centro de Autazes
  • Arão é um pequeno comerciante da comunidade
  • Compra os produtos em Novo Céu, uma comunidade próxima e maior que Muritinga
  • Tem vontade de contrair empréstimo mas não tem paciência de ficar em filas
  • A farinha que é vendida a R$60 em Manaus chega para ele por R$120
  • Se conseguisse registrar a firma, compraria direto do fabricante e não de um atravessador
  • Não confia nos projetos e propostas do povo branco, “só conversa fiada”
  • O pessoal da comunidade tem que ir a Autazes receber o Bolsa Família e já gasta por lá
  • Não tem conta em banco porque não sobra nada pra poupar
  • Os eletrodomésticos da comunidade foram comprados com o dinheiro de aposentadorias


ENTREVISTAS NA AGÊNCIA DO BANCO

Udson Ferreira da Silva
Funcionário do frigorífico
  • Não possui conta em banco. Já tentou abrir na agência do banco, porém não conseguiu devido ao grande número de documentos exigidos, como certidão de nascimento e casamento. Há muita burocracia
  • Gostaria de plantar, mas alega que o acesso ao crédito é muito difícil
  • “Pra muitos a coisa melhorou, mas para muitos continua a mesma coisa”

ENTREVISTAS NA FEIRA DOS PRODUTORES

Edneuza Ventis, 42 anos
Feirante

  • Vende bolos e salgados
  • É funcionária pública municipal, além de trabalhar na feira
  • Os empréstimos no banco são caros, no BMG é mais em conta
  • Já realizou três empréstimos, o último foi um empréstimo consignado para funcionários públicos. Com o dinheiro obtido junto ao BMG comprou um motor para o marido trabalhar com transporte de pessoas no rio Autaz
  • Muita gente realiza o empréstimo e não sabe administrar seu dinheiro, então acabam endividadas

Gildete Lima, 34 anos
Feirante

  • Vende remédios e ervas medicinais
  • Tem conta corrente no banco e compra as mercadorias em Manaus
  • Fez um financiamento pela AFEAM, mas achou os juros altos. Não conseguiu pagar o empréstimos e está inadimplente.
  • Acredita que poderia ter pago o empréstimo se tivesse aulas de capacitação
  • Quer realizar um empréstimo para sair da feira e abrir uma loja maior, mas como está inadimplente, não tem como obter empréstimos

Márcia
Feirante

  • Tem uma lanchonete na feira
  • É correntista do banco e utiliza a poupança também
  • Nunca fez empréstimos. Vem tentando, mas o banco ainda não liberou
  • Afirma que o limite de crédito para autônomos é baixíssimo
  • Está se informando sobre os empréstimos pela AFEAM

Clarissa, 34 anos
Feirante

  • Tem uma lanchonete na feira
  • Abriu há alguns dias uma conta corrente no banco
  • É funcionária pública municipal
  • Disse que se o dinheiro ficar no banco, o banco “come” tudo. São muitas as taxas, por isso não utiliza poupança e só é correntista porque precisa receber o salário da prefeitura.
  • Tem medo de dívidas, porque muitos dos conhecidos que pegaram empréstimos, não conseguiram quitar a dívida
  • Comprou os equipamentos da lanchonete através do crediário de uma loja de varejo.
  • Acredita que a taxa de juros na AFEAM é alta e o processo para obter o empréstimo é burocrático

Ana Cristina
Feirante

  • A família possui três boxes na feira
  • Os três boxes são açougues
  • Compraram equipamentos, como moedores de bifes, com a ajuda da AFEAM, que não cobra juros e ainda dão dois meses de carência
  • Segundo Ana, todos os açougueiros da feira sofrem com a falta de capital de giro. Eles compram um boi e vendem todas as peças para pagarem o boi que fora comprado anteriormente. “Pega um boi e paga o outro”
  • O financiamento da AFEAM ajudou muito no crescimento do negócio da família, mas o limite de crédito obtido lá é R$10 mil, e já estão precisando de quantias maiores
  • Abriram recentemente um mercado, fora da feira, e registraram a firma com a finalidade de conseguirem empréstimos maiores

Bancos

  • ALMOÇO COM OS FUNCIONÁRIOS DO BANCO

O almoço foi marcado no melhor dos poucos restaurantes da cidade, o Bom Prato. Compareceram o gerente geral, que trabalhara em São Paulo e Manaus, o gerente administrativo e a assistente geral, os dois últimos nascidos aqui na região de Autazes. Segue o resumo da conversa que tivemos durante o almoço:

  • A agência foi instalada na cidade em 2007
  • O banco já atuava na cidade por meio do Banco Postal.
  • possui seis colaboradores: gerente geral, gerente administartivo, assistente geral, caixa, segurança e uma senhora da limpeza.
  • A razão da instalação é o fato de o Banco Postal possui limitações:
    o limite de valores e do número de transações ( devido a relativa baixa segurança dos Correios para grandes volumes de dinheiro); havia muita fila no Postal
  • Autazes possui cerca de 1250 aposentados e uma população de 14 mil pessoas na área urbana e 16 mil pessoas na área rural.
  • O Banco enfrenta a concorrência da Caixa Econômica Federal em Autazes, já que há aqui a Lotérica Auta Sorte, que é correspondente bancária da CEF.
  • Principais atividades do banco em Autazes: financiamentos(veículos, motos, rural), empréstimos consignados e empréstimos pessoais para autônomos.
  • Para empréstimos consignados para aposentados e servidores cobra-se juros que variam de 1,75% e 2,5% am e limite de comprometimento da renda mensal com empréstimos de 30%, segundo o folheto informativo do banco.
  • Existe também empréstimos para empreendimentos já consolidados. O empréstimo de baixo valor para micro e pequenos empreendimentos é muito baixo, ficando entre 5% e 10% dos empréstimos.
  • A poupança bancária é muito pouco utilizada pois muita gente da área rural prefere guardar o dinheiro em casa e ir ao banco apenas para fazer pagamentos, além disso é pequeno o númeo de pessoas que possui dinheiro sobrando para poupar.
  • O seguro é muito pouco usado. O banco está se esforçando para introduzir um seguro de vida mais simples de R$ 9,00 ao mês, segundo o folheto informativo do banco.
  • As pessoas não possuem a cultura de possuir seguros e poupança.
  • O cartão de crédito foi implementado em 2002. Na época houve uma grande campanha para inserção desse entre as pessoas da cidade. Muitos comerciantes viam no cartão uma forma de garantia de pagamento.
  • A taxa de inadimplência é aceitável. " As pessoas possuem muita vontade de pagar, mas às vezes realmente não tem como. As pessoas chegam a avisar e mandar cartas e bilhetes quando chega o dia limite de pagamento e eles não têm condições de pagar".
  • A agência já financiou muitas motos em Auatazes, antes essas pessoas andavam de bicicleta.
  • Foram feitos muitos empréstimos para reforma de casa e muitas casas que eram de madeira foram reformadas e hoje são de alvenaria.
  • No Município de Autazes existem 40 comunidades, dentre elas: Rosarinho, Sampaio, Urucurituba, Miguel, Novo Céu, Mastro, Rochedo, Baracuba, Cara Grande, Rio Preto, Gomo, Butuca e Ramal do Ferro Quente.
  • Ainda segundo o gerente: “O interessante é fomentar as vilazinhas, senão o dinheiro fica centralizado, assim como o desenvolvimento”.

Correspondentes Bancários e Comércio

ENTREVISTAS COM OS CORRESPONDENTES BANCÁRIOS DO BANCO

Marcelo Luiz,
Funcionário do Supermercado LEIDA



  • o supermercado Leida é um dos 3 correspondentes bancários do banco da cidade
  • realiza-se saques, depósitos e pagamentos de contas
  • a transação mais freqüente é o pagamento de boletos
  • recebe-se uma taxa de R$ X por transação
  • são dois pequenos aparelhos necessários para a conexão com o banco
  • a máquina deles aceita 3 formas de conexão, pela TIM, pela internet e pelo telefone
    em épocas de pagamento o sistema sobrecarrega e fica fora do ar
  • o suporte técnico é realizado por uma empresa de Manaus, via telefone
    um dos benefícios para os clientes é o fato desses não precisarem mais pegar filas em banco
  • a maioria dos usuários do serviço não é cliente da loja, mas dentre os que são clientes da loja, 90% dos que fazem saque no sistema já aproveitam para fazer compras
  • no momento da entrevista o sistema estava fora do ar e cerca de cinco pessoas apareceram no supermercado para tentar realizar alguma transação bancária
  • uma funcionária do supermercado recebeu um treinamento de como operar o sistema e ensinou aos demais funcionários
  • os depósitos e pagamentos são considerados dívidas do estabelecimento perante o banco, e os saques o inverso. Se o estabelecimento chegar a dever R$ X ao banco, o sistema fica bloqueado até que a conta é acertada
  • o movimento da loja aumentou cerca de 50% após se tornar um correspondente
  • a loja abandonou seu sistema de crediários e só financia com VISA



Brasinilda Mendonça da Silva
Proprietária do Supermercado Eloísa
  • o Banco Postal ficava congestionado antes da existência de correspondentes bancários
  • seu sistema suporta 4 canais de conexão: TIM, Oi, Internet e Telemar
  • chega a fazer 300 transações em dias de pagamento
  • faz mais transações que a própria agência do banco na cidade!
    a fila fica gigante no supermercado em certos dias
  • o sistema cai muito
  • saques e pagamentos de contas são os principais serviços, faz também depósitos
  • recebe R$ X por transação
    o principal benefício para o supermercado é a taxa recebida por transação, mas também há um bom aumento de vendas devido à movimentação de pessoas no estabelecimento
  • há pouco tempo a população ficava desconfiada de usar cartões de crédito, depois de uma campanha do banco passaram a usar mais o cartão
  • desde o Banco Postal, o dinheiro tem “sumido” da cidade. Depois da chegada do banco, devido ao altíssimo número de empréstimos, o dinheiro “sumiu de vez”
  • tem um funcionário que fica só por conta de atender os que procuram por serviços financeiros
  • há limites para saques, para pagamentos e para depósitos



Washington,
Proprietário da WR Confecções


  • a finalidade foi auxiliar o Correio, porque ficava muito congestionado em épocas de pagamentos
  • a taxa recebida é bem pequena e o aumento nas vendas decorrente da prestação de serviços financeiros é irrevelante
  • os bancos e as financeiras “acabaram” com o dinheiro da cidade, não circula mais
  • pouca gente usa o cartão de crédito
  • há limites para saques, para pagamentos e para depósitos
  • o faturamento de 2 anos para cá diminuiu cerca de 20% devido ao endividamento da população
  • há 11 anos vem contraindo empréstimos com a AFEAM, mas reclama que o limite é muito baixo

ENTREVISTAS COM OS CORRESPONDENTES BANCÁRIOS DA CAIXA ECONÔMICA

Ana,
Lotérica Alta Sorte.

  • Recebe contas e depósitos, faz saques e paga benefícios do governo
  • As principais atividades são pagamentos de contas e benefícios
  • É correspondente bancário do Banco do Brasil também, desde 2008, mas só fornece o saldo da conta e permite saques de até R$ X
  • Só se consegue fazer saques se a lotérica tiver o dinheiro disponível em caixa, ou seja, pelas manhãs é muito provável que não se consiga sacar dinheiro na lotérica
  • Existes limites para depósitos, para saques e para pagamentos
  • A fila fica muito grande em dias de pagamentos de aposentadorias e bolsa-família. A lotérica não tem estrutura suficiente para realizar essas operações para todas as pessoas da região de Autazes.

ENTREVISTAS COM OS COMERCIANTES

Francisco Lopes,
Vitória Magazine

  • Segundo Francisco, a cidade precisa de mais bancos, pois na Lotérica (correspondente da Caixa Econômica) nunca tem dinheiro. E nos correspondentes do banco o limite nas transações é de R$ X, então se alguém precisa fazer uma transação de valor maior que esse limite, tem que ir até à agência e pegar fila.
  • O Banco Postal melhorou bastante a cidade
  • A loja tem um sistema de crediário, porque quase ninguém usa cartão de crédito
  • Até três anos atrás, havia apenas uma loja que vendia eletrodomésticos na cidade. Hoje já são seis lojas.

Francisca,
Lojas Rychardson

  • A Rychardson foi a primeira loja na cidade a vender eletrodomésticos
  • Em Autazes fica uma filial da rede de lojas, que é referência no interior do Amazonas
  • Os habitantes da zona rural compram mais que os da zona urbana
  • Muita gente pega empréstimo no banco para ir comprar na Rychardson
  • O cartão de crédito tem contribuído pro aumento das vendas da loja
  • Os itens mais vendidos são refrigeradores e televisões
  • Os principais clientes são os funcionários públicos
  • O Programa Luz Para Todos alavancou as vendas da loja

Edmilson,
Casa Oliveira

  • A Casa Oliveira abriu as portas em 2002
  • Começou a vender bens de maior valor agregado há 3 anos, como fogões e geladeiras
  • Segundo Edmilson, os idosos eram muito mal orientados e por isso se endividaram muito no crédito consignado.
  • Tem sistema de crediário na loja
  • Muitos ribeirinhos de comunidades próximas são clientes da loja
  • Acredita que o grande aumento no número de lojas na cidade deve-se ao fato do grande número de pessoas que estão trabalhando e recebendo em dia na prefeitura municipal

Primeiras entrevistas

Pela manhã, após o café servido no hotel, estruturamos as entrevistas a serem feitas com nosso coordenador Renê. Usamos como método de pesquisa um frame de agentes sociais relevantes, os agentes identificados foram: governos, bancos, correspondentes bancários e comércio, OSCIPS e associações e os tomadores de microcrédito. A partir desse frame tentaremos entender as relações e interesses que envolvem a bancarização na cidade e a influência desses agentes no desenvolvimento do acesso ao microcrédito em Autazes.

Almoçamos com o pessoal da agência do banco para levantar algumas informações.

Na parte da tarde combinamos de visitar as comunidades de Sampaio, Lago do Ferro Quente e Rosarinho. A visita seria feita de mototáxi. Vimos um pouco da cidade de Autazes para além do centro e conhecemos a bela estrada que nos levaria até as comunidades. O trajeto foi bem agradável, quatro motos adentrando a floresta em alta velocidade, na estrada de terra.





Não conseguimos chegar à comunidade de Sampaio devido à um alagamento em dois trechos da estrada. Embora os mototáxis estivessem bastante animados propondo que carregássemos as motos na parte alagada que batia em nossas cinturas, não daria tempo de ir e voltar, visto que já eram cerca de 15h.





Conseguimos ir à comunidade de Lago do Ferro Quente. Chegando à comunidade, fomos apresentados ao Raimundo, o líder da comunidade. Após a entrevista, fomos também à comunidade do Rosarinho, onde conversamos com dois moradores de lá.



domingo, 12 de julho de 2009

Primeiros contatos

No primeiro dia de visita a Autazes conhecemos melhor a estrutura da cidade, que nos surpreendeu positivamente. A cidade possui um comércio relativamente desenvolvido, com diversas lojas de variedades (como a Kuazitudo), mercados e até uma concessionária de motos. Muitas delas aceitam cartões de crédito. Além da praça principal, o comércio é bastante desenvolvido na avenida perpendicular à praça, a principal avenida da cidade.

Em relação aos serviços financeiros observamos a existência de uma agência de uma banco, instalada em 2007, uma financeira e de três correspondentes bancários do banco e um correspondente da Caixa Federal (na Lotérica). Além disso, existe o Banco Postal desde 2002.


De manhã fomos à prefeitura tentar falar com o prefeito para nos apresentarmos, explicarmos nossa pesquisa e solicitar uma possível reunião para obter dados da cidade e indicações de lugares a serem investigados. No dia a prefeitura estava bastante tumultuada. Era recesso facultativo, pois havia falecido uma funcionária da prefeitura. A prefeitura estava repleta de pessoas, grande parte delas esperando para falar com o prefeito. Ficamos na fila até sermos atendidos.

Gentilmente fomos recebidos em uma reunião em que estavam presentes o prefeito Wanderlan Sampaio e o vice-prefeito Tadeu. Nessa reunião eles se mostraram bastante solícitos e dispostos a nos fornecer os contatos necessários para o nosso trabalho.

Tentamos também estabelecer um primeiro contato com os colaboradores do banco. Entramos na agência, que é o lugar mais frio da cidade devido ao potente ar condicionado, e fomos conversar com o segurança para que ele indicasse algum dos gerentes. Esperamos por cerca de 30 minutos até que o gerente administrativo veio nos receber e falou que precisavamos antes de uma autorização do gerente da agência. Logo depois nosso orientador Renê fez contato com um gerente do banco em São Paulo e no dia seguinte foi marcado um almoço com os funcionários do banco em Autazes.

Tentamos também um primeiro contato com Banco Postal, mas o gerente exigiu que falássemos com um supervisor. Tivemos dificuldades para nos comunicar com o supervisor e posteriormente para conseguir uma reunião com o gerente da agência.

No final do dia dicutimos alguns textos sobre microcrédito e métdodos de pesquisa. Os textos eram relacionado ao BPP(Banco do Povo Paulista), Muhammad Yunus e alguns textos do CEPAM.

Jantamos no restaurante Bom Prato, que parecia ser nossa única opção. Nossa impressão era de que a cidade eram mais desenvolvieda do que imaginávamos e tinhamos ainda bastante a conhecer.

Chegada a Autazes

Ainda em São Paulo estávamos ansiosos para conhecer a cidade de Autazes, com receio frente as condições que teríamos na cidade, como o acesso à internet, uma cama confortável e um clima ameno. Imaginávamos uma cidade bem pequena com lazeres e dia-a-dia bem diferentes de São Paulo. Empolgava-nos bastante o tema de estudo, principalmente após o encontro de sexta-feira do Conexão Local, onde encontramos nosso coordenador Renê Birocchi e o professor Eduardo Diniz.

Saímos de casa domingo de manhã e chegamos a Manaus por volta do meio-dia. Ainda no avião foi possível notar as cheias no Estado pelo transbordar dos rios que invadiam as áreas verdes. Manaus é extremamente abafada e realmente uma grande cidade com quase 3 milhões de habitantes. Já em terra passamos pela zona franca e vimos imponentes indústrias de marcas importantes, como Sony e Nokia. O taxista foi bastante simpático, como a maioria das pessoas que conhecemos aqui, e ao longo do caminho foi nos mostrando a cidade. Ele nos deixou no porto, local de encontro que havíamos combinado com nosso orientador. No porto encontramos com Renê, nosso orientador e Karolina, namorada dele.

O trajeto de Manaus para Autazes começava por um barco que saia do Careiro(um mini-porto). O barco era bem rápido e transportava cerca de trinta pessoas. Começávamos a ver a quão bonita e grandiosa é a paisagem aqui no Amazonas com uma vegetação muito verde e densa e grandes rios.



Desembarcamos em uma feira ao ar livre invadida pelo rio. Chamou-nos bastante a atenção fato de estarem exposto bois quase inteiros pendurados pelos feirantes. Pegamos um micro-ônibus e entramos em uma estrada alagada em alguns pontos. As pessoas pareciam não se sentirem incomodadas pelas cheias, pelo contrário, se banhando nas partes alagadas, fazendo churrascos, ouvindo músicas e esperando o ônibus passar para jogar água, assim se divertiam bastante.


Após quase duas horas de viagem chegamos a outro lugar para embarcar e chegar na tão esperada cidade de Autazes. Deixamos as pessoas saírem do micro-ônibus antes para depois pegarmos nossas malas. Não foi uma boa idéia, o barco que iria sair lotou e tivemos que esperar o próximo barco que só sairia quando houvesse pessoas suficientes para lotar o barco. Já eram umas cinco horas da tarde e o próximo ônibus estava previsto para demorar cerca de meia hora. Aconteceu que nesse tempo chegaram dois ônibus, porém os dois vazios, para nossa decepção. Durante o tempo de espera conversamos com o motorista no barco que nos falou que comprara o barco por cerca de R$3.000,00 e o motor por R$28.000,00, ambos à vista, e começou a trabalhar naquele trajeto. Ele disse que de um a dois anos era possível recuperar o investimento efetuado. Surpreendeu-nos os altos valores envolvidos no negócio.

Já acomodados no barco, para nossa surpresa, o motorista nos falou que o próximo ônibus sairia somente às 19h. Felizmente um ônibus fretado aceitou nos levar por R$5,00 e chegamos à cidade já no pôr-do-sol.



Acomodamos-nos no hotel que era de ótima qualidade, com televisão, frigobar e o essencial ar-condicionado. Passeamos um pouco pela praça à noite, e comemos no restaurante Bom Prato. Bom restaurante que iria ser nosso fiel companheiro nas refeições dos dias que viriam.

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