sábado, 25 de julho de 2009

Entrevistas nas comunidades

Visitamos mais três comunidades para entrevistar as pessoas e entender como elas lidavam com os serviços financeiros. As três comunidades foram: Miguel, Josefa e Sampaio.

COMUNIDADE MIGUEL

A comunidade é formada por 22 famílias e a economia local se baseia na plantação familiar de mandioca, cupuaçu e banana. Esses produtos são vendidos na zona urbana de Autazes.
Na comunidade de Miguel entrevistamos a Jaqueline e o Guilherme. O Guilherme é um microempreendedor, e sua história se encontra na seção Vídeos. Já a Jaqueline nos disse que não possui conta em banco e recebe o Bolsa-Família na Lotérica de Autazes, a qual é correspondente bancário da Caixa Econômica Federal. A viagem até Autazes custa R$ 9,00 ida e volta e dura cerca de 2 horas, por isso, Jaqueline já aproveita para fazer o rancho e outras compras no momento em que recebe o benefício do governo.


COMUNIDADE JOSEFA

Na comunidade de Josefa entrevistamos sete pessoas, incluindo o cacique, que é o responsável pela organização comunitária e é considerado um grande líder na comunidade.

O cacique nos esclareceu que os habitantes da comunidade, em sua grande maioria, recebem o Bolsa-Família e não chegam com esse dinheiro na comunidade, pois gastam grande parte do benefício em compras na zona urbana de Autazes. A comunidade de Josefa é considerada muito produtiva perante as outras comunidades do município, e vive da produção de mandioca e abacaxi. O cacique também nos disse que estão há anos batalhando pela aquisição de um trator. Muitas vezes o abacaxi produzido por eles chega estragado em Autazes, porque o transporte dessa fruta até Autazes é falho. A alternativa encontrada para que conseguissem o trator foi a oficialização de uma associação na comunidade de Josefa. Eles estão trabalhando nesse processo e acreditam que assim que conseguirem montar uma associação legalizada, conseguirão também os recursos para a obtenção do trator. Ainda segundo o cacique, das 66 famílias da comunidade, 61 recebem o Bolsa-Família.

Dos sete entrevistados, apenas um tinha conta em banco. O senhor que possuia uma conta bancária era aposentado, recebia a aposentadoria na agência do Bradesco, e já havia contraído dois empréstimos consignados, por isso recebia R$ 260,00 de aposentadoria. O aposentado faz todas as compras necessárias em Autazes.

Dos seis entrevistados que não possuiam conta em banco, todos recebiam o Bolsa-Família. Todos recebem o benefício na Lotérica em Autazes, e já fazem as compras de alimentos e outros produtos em Autazes. Isso faz com que se alimente um círculo vicioso, em que não há comércio na comunidade porque não circula dinheiro nela, e não circula dinheiro nela justamente porque não há comércio na comunidade. Foi citada também a grande dificuldade para o recebimento desse benefício, pois os habitantes devem sair da comunidade às 4 horas da manhã para conseguirem evitar um a gigantesca fila da Lotéria em dias de pagamento. Perde-se assim um dia inteiro de trabalho.


COMUNIDADE SAMPAIO

Na comunidade Sampaio foram entrevistados um aposentado, dois comerciantes e uma dona-de-casa. A comunidade é formada por cerca de mil pessoas e, segundo depoimento de um dos comerciantes, recebe cerca de R$ 70 mil por mês de benefícios governamentais, aposentadorias e salários.
João Siqueira é comerciante, compra seus produtos na zona urbana de Autazes e os revende na comunidade. Ele nos disse que as pessoas realmente fazem o rancho e as compras maiores em Autazes no momento em que recebem a aposentadoria ou o Bolsa-Família. Mas o negócio dele se sustenta porque quando o estoque de comida dos habitantes da comunidade acaba, eles vão ao comércio de João para fazerem pequenas compras, que não justificam uma viagem até Autazes. O comerciante afirmou que contrai empréstimos para capital de giro com muita frequencia, já contraiu mais de 10 empréstimos nos ultimos anos. O juro médio é de 6% ao mês, e o valor médio obtido é de R$ 7 mil.

Romero também é comerciante em Sampaio e nos disse que muitos agricultores da comunidade recebem o Pronaf A, assim como ele. Conseguem um financiamento de até R$ 18 mil para a produção agrícola, mas antes os agricultores precisam da aprovação do projeto junto ao IDAM, e além dessa aprovação, o IDAM é responsável por uma assistência técnica durante os anos em que o agricultor está plantando e colhendo o que propôs no projeto inicial. Segundo Romero, essa assistência do IDAM é “bem mais ou menos”.

A dona-de-casa entrevistada recebe o Bolsa-Família e possui conta no Bradesco. Não usa cartão de crédito porque não faz muitas transações. Para receber o benefício ela tem que ir a Autazes e essa viagem dura cerca de quatro horas. Assim já aproveita para fazer a compra do mês por lá mesmo. Já fez um empréstimo, obteve R$ 1 mil e pagou em 18 vezes de R$ 99. Apesar dos juros altos, ela nos disse que o empréstimo lhe foi útil e quando for necessário ela contrairá novamente.

O sr. Claudaltino é um aposentado de 77 anos. Disse-nos que precisa ir sempre a Autazes para fazer compras e receber a aposentadoria. Mas algo o incomodava muito ultimamente, pois ele não sabia o motivo pelo qual estava recebendo apenas R$ 200 de aposentadoria, segundo suas contas deveria receber R$ 320. O sr. Claudaltino nos apresentou alguns documentos do banco em que fizera o empréstimo, na verdade encontrou apenas um dos documentos e nos explicou que contraira dois empréstimos consignados, um de R$ 2 mil e um de R$ 300. Mas com esses empréstimos, descontando as parcelas do pagamento do empréstimo, o aposentado deveria receber R$ 320 e não R$ 200. Não se sabe se alguém da família utilizou seu cartão para obter o dinheiro no nome dele ou se aconteceu algum outro problema.

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