segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tomadores de Microcrédito

ENTREVISTA NA ALDEIA DO LAGO DO FERRO QUENTE

Raimundo Nonato Marques de Mendonça, 42 anosLíder da Aldeia – Etnia Mura

  • os brancos não dão apoio suficiente para os índios da aldeia dele
  • pra fazer empréstimo tem que ter propriedade, e o índio vive nas terras da União
  • terras são boas mas precisam de apoio para plantarem banana, madioca, maxixe...
  • aldeia constituída de 107 índios
  • acredita que Governos Federal e Estadual repassam o dinheiro destinado aos indígenas e esse dinheiro é barrado no Governo Municipal
  • adquirira eletrodomésticos através do crediário de uma loja, quem não paga as parcelas têm o equipamento resgatado em casa pelo pessoal da loja

ENTREVISTAS NA COMUNIDADE NOVO CÉU


Léo Ribeiro dos Santos, 28 anos.

Proprietário da Casa de Pesca Comercial Sofia















  • .
  • vende material de pesca e ração, é o único na comunidade que vende esses produtos
  • o pai dele tem um outro comércio na cidade e a população perguntava para Léo o porquê que ainda não tinha uma loja de pesca em Novo Céu, já que a demanda é grande
  • Léo é amigo do dono da loja de pesca de Autazes, então com ele obteve os contatos dos fornecedores e abriu o estabelecimento
  • sua esposa trabalha na prefeitura como secretária de sua cunhada. Então usou o contracheque da cunhada (que oferecia um limite de empréstimo superior ao da esposa) para contrair um empréstimo consignado para funcionários públicos na CEF de Manaus.
  • Pegou R$ 10 mil emprestado e no total pagou R$ 15 mil em 36 parcelas
  • optou pela Caixa Econômica Federal porque no outro banco o empréstimo para capital de giro acarreta em juros altos
  • em Novo Céu moram 6 mil pessoas e não há nem banco nem correspondente bancário
  • então há uma pessoa que aproveita a oportunidade e faz depósitos e pagamentos, transportando o dinheiro ou o boleto até Autazes, cobra 5% do valor transacionado
    o banco devia dar "uma chance a mais" aos empreendedores, pois os juros são altos e o processo é burocrático
  • os aposentados estão todos com a "corda no pescoço" de tantos empréstimos
  • é importante uma capacitação dos tomadores de microcrédito, pois tem muito empreendedor que não sabe muito bem administrar o dinheiro que recebe
    a população se confunde com os prazos e as taxas de juros praticadas, e os bancos muitas vezes não são muito transparentes

Adamor Figueiredo
Mercadinho e Hotel Ac. Figueiredo

  • abriu o negócio há 8 anos
  • tem conta no banco da cidade e fez um empréstimo para investir na loja de R$ 5 mil há alguns anos, com juros de 4,5% e 3 meses de carência. Conseguiu quitar a dívida
  • quando tinha um Correspondente Bancário na comunidade, o dinheiro circulava muito mais. Hoje, como não tem mais, muitas pessoas vão gastar seu dinheiro na área urbana de Autazes

Élson Arcos França e Jorge Arcos França,
RJT Comercial

  • ambos dividem ao meio uma residência e montaram dois estabelecimentos
  • Élson trabalha com a distribuidora Martins e nunca precisou pegar empréstimo
  • Jorge pretende fazer um empréstimo no banco e usar como garantia um terreno que possui
  • o Correspondente Bancário da comunidade ficava no mesmo lugar onde Jorge está instalado hoje, mas antes era outro dono. Jorge não conseguiu ser correspondente porque ainda não tem firma registrada
  • o antigo proprietário do estabelecimento que era correspondente tinha que contratar um segurança no dia de pagamentos de benefícios e aposentadoria, o movimento era grande e ele oferecia até um café da manhã pro pessoal
  • hoje com a falta de correspondente a população tem que pagar cerca de R$ 30,00 e acaba levando uma manhã inteira para ir à Autazes receber os benefícios e aposentadoria
  • a escola da cidade tem que parar por 2 dias no mês para que os professores consigam ir a Autazes receberem seus salários

ENTREVISTA NA COMUNIDADE MURITINGA


Arão de Souza Martins
Índio da etnia Mura














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  • Na comunidade ribeirinha vivem 1340 índios
  • Fica a 25 minutos de barco do centro de Autazes
  • Arão é um pequeno comerciante da comunidade
  • Compra os produtos em Novo Céu, uma comunidade próxima e maior que Muritinga
  • Tem vontade de contrair empréstimo mas não tem paciência de ficar em filas
  • A farinha que é vendida a R$60 em Manaus chega para ele por R$120
  • Se conseguisse registrar a firma, compraria direto do fabricante e não de um atravessador
  • Não confia nos projetos e propostas do povo branco, “só conversa fiada”
  • O pessoal da comunidade tem que ir a Autazes receber o Bolsa Família e já gasta por lá
  • Não tem conta em banco porque não sobra nada pra poupar
  • Os eletrodomésticos da comunidade foram comprados com o dinheiro de aposentadorias


ENTREVISTAS NA AGÊNCIA DO BANCO

Udson Ferreira da Silva
Funcionário do frigorífico
  • Não possui conta em banco. Já tentou abrir na agência do banco, porém não conseguiu devido ao grande número de documentos exigidos, como certidão de nascimento e casamento. Há muita burocracia
  • Gostaria de plantar, mas alega que o acesso ao crédito é muito difícil
  • “Pra muitos a coisa melhorou, mas para muitos continua a mesma coisa”

ENTREVISTAS NA FEIRA DOS PRODUTORES

Edneuza Ventis, 42 anos
Feirante

  • Vende bolos e salgados
  • É funcionária pública municipal, além de trabalhar na feira
  • Os empréstimos no banco são caros, no BMG é mais em conta
  • Já realizou três empréstimos, o último foi um empréstimo consignado para funcionários públicos. Com o dinheiro obtido junto ao BMG comprou um motor para o marido trabalhar com transporte de pessoas no rio Autaz
  • Muita gente realiza o empréstimo e não sabe administrar seu dinheiro, então acabam endividadas

Gildete Lima, 34 anos
Feirante

  • Vende remédios e ervas medicinais
  • Tem conta corrente no banco e compra as mercadorias em Manaus
  • Fez um financiamento pela AFEAM, mas achou os juros altos. Não conseguiu pagar o empréstimos e está inadimplente.
  • Acredita que poderia ter pago o empréstimo se tivesse aulas de capacitação
  • Quer realizar um empréstimo para sair da feira e abrir uma loja maior, mas como está inadimplente, não tem como obter empréstimos

Márcia
Feirante

  • Tem uma lanchonete na feira
  • É correntista do banco e utiliza a poupança também
  • Nunca fez empréstimos. Vem tentando, mas o banco ainda não liberou
  • Afirma que o limite de crédito para autônomos é baixíssimo
  • Está se informando sobre os empréstimos pela AFEAM

Clarissa, 34 anos
Feirante

  • Tem uma lanchonete na feira
  • Abriu há alguns dias uma conta corrente no banco
  • É funcionária pública municipal
  • Disse que se o dinheiro ficar no banco, o banco “come” tudo. São muitas as taxas, por isso não utiliza poupança e só é correntista porque precisa receber o salário da prefeitura.
  • Tem medo de dívidas, porque muitos dos conhecidos que pegaram empréstimos, não conseguiram quitar a dívida
  • Comprou os equipamentos da lanchonete através do crediário de uma loja de varejo.
  • Acredita que a taxa de juros na AFEAM é alta e o processo para obter o empréstimo é burocrático

Ana Cristina
Feirante

  • A família possui três boxes na feira
  • Os três boxes são açougues
  • Compraram equipamentos, como moedores de bifes, com a ajuda da AFEAM, que não cobra juros e ainda dão dois meses de carência
  • Segundo Ana, todos os açougueiros da feira sofrem com a falta de capital de giro. Eles compram um boi e vendem todas as peças para pagarem o boi que fora comprado anteriormente. “Pega um boi e paga o outro”
  • O financiamento da AFEAM ajudou muito no crescimento do negócio da família, mas o limite de crédito obtido lá é R$10 mil, e já estão precisando de quantias maiores
  • Abriram recentemente um mercado, fora da feira, e registraram a firma com a finalidade de conseguirem empréstimos maiores

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